“Geralmente, qualifica-se de eclético um gosto inseguro ou sem critérios, um procedimento
intelectual sem coluna vertebral, um conjunto de escolhas que não se fundamenta
em nenhuma visão coerente. A linguagem comum, ao considerar pejorativo o termo
“eclético”, na verdade ratifica a ideia de que é preciso focar o interesse num certo tipo
de arte, de literatura ou de música, do contrário as coisas se perderiam no kitch, por
não conseguir afirmar um identidade pessoal suficientemente forte - ou, quando menos,
reconhecível. Esse caráter vergonhoso do ecletismo é inseparável da ideia de que o
indivíduo equivale socialmente a suas escolhas culturais: supõe-se que eu sou o que leio,
o que ouço, o que olho. Cada um de nós é identificado com sua estratégia pessoal de
consumo de signos; o kitch representa um gosto de fora, uma espécie de opinião difusa
e impessoal que substitui a escolha individual.
(...)
O discurso antieclético tornou-se, portanto, um discurso de adesão, o desejo de uma
cultura marcada com balizas bem claras, que deixam todas as suas produções bem
organizadas, claramente identificadas sob tal ou qual rótulo, sinal de ligação com uma
visão estereotipada da cultura. Ele está vinculado à constituição do discurso modernista,
tal como é apresentado pelos textos teóricos de Clement Greenberg, para quem a história
da arte constitui uma narrativa linear, teleológica, dentro da qual cada obra do passado
se define por sua relação com as obras precedentes e subseqüentes.”
Bourriaud | Pós-Produção