A colheita é comum, mas o capinar é sozinho

Às vezes eu penso: seria o caso de pessoas de fé e posição se reunirem, em algum apropriado lugar, no meio dos gerais, para se viver só em altas rezas, fortíssimas, louvando a Deus e pedindo glória do perdão do mundo. Todos vinham comparecendo, lá se levantava enorme igreja, não havia mais crimes, nem ambição, e todo sofrimento se espraiava em Deus, dado logo, até à hora de cada uma morte cantar. Raciocinei isso com compadre meu Quelemém, e ele duvidou com a cabeça: - "Riobaldo, a colheita é comum, mas o capinar é sozinho..." - ciente me respondeu.

RETICÊNCIAS - Álvaro de Campos

RETICÊNCIAS

Arrumar a vida, pôr prateleiras na vontade e na acção.

Quero fazer isto agora, como sempre quis, com o mesmo resultado;

Mas que bom ter o propósito claro, firme só na clareza, de fazer qualquer coisa!

Vou fazer as malas para o Definitivo,

Organizar Álvaro de Campos,

E amanhã ficar na mesma coisa que antes de ontem — um antes de ontem que é sempre...

Sorrio do conhecimento antecipado da coisa-nenhuma que serei.

Sorrio ao menos; sempre é alguma coisa o sorrir...

Produtos românticos, nós todos...

E se não fôssemos produtos românticos, se calhar não seríamos nada.

Assim se faz a literatura...

Santos Deuses, assim até se faz a vida!

Os outros também são românticos,

Os outros também não realizam nada, e são ricos e pobres,

Os outros também levam a vida a olhar para as malas a arrumar,

Os outros também dormem ao lado dos papéis meio compostos,

Os outros também são eu.

Vendedeira da rua cantando o teu pregão como um hino inconsciente, Rodinha dentada na relojoaria da economia política,

Mãe, presente ou futura, de mortos no descascar dos Impérios,

A tua voz chega-me como uma chamada a parte nenhuma, como o silêncio da vida...

Olho dos papéis que estou pensando em arrumar para a janela por onde não vi a vendedeira que ouvi por ela,

E o meu sorriso, que ainda não acabara, inclui uma crítica metafísica.

Descri de todos os deuses diante de uma secretária por arrumar,

Fitei de frente todos os destinos pela distracção de ouvir apregoando,

E o meu cansaço é um barco velho que apodrece na praia deserta,

E com esta imagem de qualquer outro poeta fecho a secretária e o poema...

Como um deus, não arrumei nem uma coisa nem outra...

“Que Cristo cresça e eu diminua” João 3:30

HOMILIA


Quem dentre vós 
dirá convictamente: 
os alquimistas morreram 
- aqueles simples - 
morreram os conquistadores,
os reis os tocadores de alaúde, 
os mágicos. 
Oh, engano! 
a vida é eterna, irmãos, 
aquietai-vos, pois, em vossas lidas,
louvai a deus e reparti a côdea
 o boi, vosso marido e esposa 
e sobretudo 
e mais que tudo 
a palavra sem fel


Adélia Prado


Felix, qui potuit rerum cognoscere causas

"A verdade é o que ele pode, o errado é o que ele quer" Madade de Duras 
 The old quip, “Puritanism is the fear that, somewhere out there, somebody is having a good time.” 

Desenredo

Guimarães Rosa



– Jó Joaquim, cliente, era quieto, respeitado, bom como o cheiro de cerveja. Tinha o para não ser célebre. Como elas quem pode, porém? Foi Adão dormir e Eva nascer. Chamando-se Livíria, Rivília ou Irlívia, a que, nesta observação, a Jó Joaquim apareceu.

Antes bonita, olhos de viva mosca, morena mel e pão. Aliás, casada. Sorriram-se, viram-se. Era infinitamente maio e Jó Joaquim pegou o amor. Enfim, entenderam-se. Voando o mais em ímpeto de nau tangida a vela e vento. Mas tendo tudo de ser secreto, claro, coberto de sete capas. Porque o marido se fazia notório, na valentia com ciúme; e as aldeias são a alheia vigilância. Então ao rigor geral os dois se sujeitaram, conforme o clandestino amor em sua forma local, conforme o mundo é mundo. Todo abismo é navegável a barquinhos de papel. Não se via quando e como se viam. Jó Joaquim, além disso, existindo só retraído, minuciosamente. Esperar é reconhecer-se incompleto. Dependiam eles de enorme milagre. O inebriado engano. Até que -deu-se o desmastreio. O trágico não vem a conta-gotas. Apanhara o marido a mulher: com outro, um terceiro… Sem mais cá nem mais lá, mediante revólver, assustou-a e matou-o. Diz-se, também, que a ferira, leviano modo. Jó Joaquim, derrubadamente surpreso, no absurdo desistia de crer, e foi para o decúbito dorsal, por dores, frios, calores, quiçá lágrimas, devolvido ao barro, entre o inefável e o infando. Imaginara-a jamais a ter o pé em três estribos; chegou a maldizer de seus próprios e gratos abusufrutos. Reteve-se de vê-la. Proibia-se de ser pseudo personagem, em lance de tão vermelha e preta amplitude. Ela -longe- sempre ou ao máximo mais formosa, já sarada e sã. Ele exercitava-se a agüentar-se, nas defeituosas emoções. Enquanto, ora, as coisas amaduravam.

Todo fim é impossível? Azarado fugitivo, e como à Providência praz, o marido faleceu, afogado ou de tifo. O tempo é engenhoso. Soube-o logo Jó Joaquim, em seu franciscanato, dolorido mas já medicado. Vai, pois, com a amada se encontrou -ela sutil como uma colher de chá, grude de engodos, o firme fascínio. Nela acreditou, num abrir e não fechar de ouvidos. Daí, de repente, casaram-se. Alegres, sim, para feliz escândalo popular, por que forma fosse. Mas. Sempre vem imprevisível o abominoso? Ou: os tempos se seguem e parafraseiam-se. Deu-se a entrada dos demônios. Da vez, Jó Joaquim foi quem a deparou, em péssima hora: traído e traidora. De amor não a matou, que não era para truz de tigre ou leão. Expulsou-a apenas, apostrofando-se, como inédito poeta e homem. E viajou a mulher, a desconhecido destino.

Tudo aplaudiu e reprovou o povo, repartido. Pelo fato, Jó Joaquim sentiu-se histórico, quase criminoso, reincidente. Triste, pois que tão calado. Suas lágrimas corriam atrás dela, como formiguinhas brancas. Mas, no frágio da barca, de novo respeitado, quieto. Vá-se a camisa, que não o dela dentro. Era o seu um amor meditado, a prova de remorsos. Dedicou-se a endireitar-se. Mais. No decorrer e comenos, Jó Joaquim entrou sensível a aplicar-se, a progressivo, jeitoso afã. A bonança nada tem a ver com a tempestade. Crível? Sábio sempre foi Ulisses, que começou por se fazer de louco. Desejava ele, Jó Joaquim, a felicidade -idéia inata. Entregou-se a remir, redimir a mulher, à conte inteira. Incrível? É de notar que o ar vem do ar. De sofrer e amar, a gente não se desafaz. Ele queria os arquétipos, platonizava. Ela era um aroma. Nunca tivera ela amantes! Não um. Não dois. Disse-se e dizia isso Jó Joaquim. Reportava a lenda a embustes, falsas lérias escabrosas. Cumpria-lhe descaluniá-la, obrigava-se por tudo. Trouxe à boca-de-cena do mundo, de caso raso, o que fora tão claro como água suja. Demonstrando-o, amatemático, contrário ao público pensamento e à lógica, desde que Aristóteles a fundou. O que não era tão fácil como fritar almôndegas. Sem malícia, com paciência, sem insistência, principalmente. O ponto está em que o soube, de tal arte: por antipesquisas, acronologia miúda, conversinhas escudadas, remendados testemunhos. Jó Joaquim, genial, operava o passado -plástico e contraditório rascunho. Criava nova, transformada realidade, mais alta. Mais certa? Celebrava-a, ufanático, tendo-a por justa e averiguada, com convicção manifesta. Haja o absoluto amar -e qualquer causa se irrefuta. Pois produziu efeito. Surtiu bem. Sumiram-se os pontos das reticências, o tempo secou o assunto. Total o transato desmanchava-se, a anterior evidência e seu nevoeiro. O real e válido, na árvore, é a reta que vai para cima. Todos já acreditavam. Jó Joaquim primeiro que todos. Mesmo a mulher, até, por fim. Chegou-lhe lá a notícia, onde se achava, em ignota, defendida, perfeita distância. Soube-se nua e pura. Veio sem culpa. Voltou, com dengos e fofos de bandeira ao vento.

Três vezes passa perto da gente a felicidade. Jó Joaquim e Vilíria retomaram-se, e conviveram, convolados, o verdadeiro e melhor de sua útil vida.


E pôs-se a fábula em ata.
"fico desperto... como ave solitária no telhado" SI 110
"para que haja amor, são necessários dois"
You cannot change what you refuse to confront

Grava-me como selo sobre o teu coração,
Como selo sobre o teu braço,
Porque o amor é forte como a morte...
As suas flechas são flechas de fogo,
Uma chama do Eterno

Cânticos 8:6

"Primero há que saber sofrer
 Depois amar
 Depois partir
 Por fim andar sem pensamento"
 Virgilio Expósito - Laranjeira Em Flor
"Eu, a sabedoria, moro com a sagacidade,
E possuo o conhecimento da reflexão. 
Eu amo os que me amam,
E os que me procuram me encontraram." 
Pr 8: 12-17
O encontro

"Quando eu te revi já era tarde demais. É sempre tarde demais nesta terra de metamorfoses."
"A história de cada dia só se completa no dia seguinte" Shogyo Gustavo Pinto 
"É algo que o oficiante não deve tentar escolher nem influir. Coisas como essas são descobertas; não são construções intencionais." Shogyo Gustavo Pinto
"Na Arte do Chá (Cha no Yu), diz-se que a maestria é alcançada quando se consegue descobrir um sabor doce no fundo do gosto amargo do chá" Shogyo Gustavo Pinto

presteza

"Apressei-me, nem por um momento me detive, a fim de cumprir Teus mandamentos" Sl 119:60 
"Pela muita preguiça desabará o teto e por mãos inativas choverá na casa" Ec 10:18

"If I am I because I am I, and you are you because you are you, then I am I and you are you. But if I am I because you are you and you are you because I am I, then I am not I and you are not you" dito iídiche
nosce te ipsum


(conhece-te a ti mesmo)

“Em tudo isso, não há pecado – há apenas uma questão de disciplina – mas a nossa meta não é apenas não ter pecados, mas ser Deuses” Plotino
"Os vasos são feitos de argila, mas é graças ao seu vazio que podem ser usados. Uma casa é cortada por portas e janelas, mas é o vazio delas que a torna habitável. Assim, o ser produz o útil, mas é o não ser que o torna eficaz" tao te ching

"As fronteiras da minha linguagem são as fronteiras do meu universo" Ludwig Wittgenstein
"Não faças aos outros o que não queres que te façam. Esta é a essência da Torá. O resto são comentários. Vai e pratica" Rabi Hillel 
"Pedi e vos será dado; buscai e achareis; batei e vós sera aberto." Mt 7,7 
"Nós não somos perturbados pelas coisas mas pela opinião que temos das coisas" Epicteto
"Enquanto você não morre e se levanta novamente, você é um estranho para a sombria Terra" Goethe
"Toda sustância acabará, o céu e a terra acabaram, tudo acabará como eu acabarei, mas acabar e começar não são coisas diferentes" Tao 
"Na doença, venenos e toxinas acumuladas vêm à superfície e precisam ser eliminados para que o corpo volte a funcionar com saúde." Sasportas 
"no meu começo está meu fim"
"O impulso da vida é em direção a totalidade, e se não estamos vivendo nossa totalidade a parte exterior trará ate nós os elementos que nos faltam." As Doze Casas - Sasportas 
"A deidade que traz a doença também traz a cura" Paracelso
"Há alguém dentro de mim que é mais do que eu mesmo" Aristoteles 
"O homem é solicitado a fazer de si mesmo aquilo em que deveria tornar-se para realizar o seu destino" Paul Tillich
"Antes da iluminação, carregue a água; depois da iluminação, carregue a água." Dito zen 
"Cada um só sabe mesmo as coisas que suporta saber Não sabe outras" Viviane Mosé

"Do lado de fora é onde deve estar o nosso lado de dentro" Viviane Mosé
"E apliquei o meu coração a esquadrinhar, e a informar-me com sabedoria de tudo quanto sucede debaixo do céu; esta enfadonha ocupação deu Deus aos filhos dos homens, para nela os exercitar"
EC 01:13

"Um dia, sem dizer o que a quem, montei a cavalo e saí, a vão, escapado. Arte que eu caçava outra gente, diferente. E marchei duas léguas. O mundo estava vazio. Boi e boi. Boi e boi e campo. Eu tocava seguindo por trilhos de vacas. Atravessei um ribeirão verde, com os umbuzeiros e ingazeiros debruçados - e ali era vau de gado. "Quanto mais ando, querendo pessoas, parece que entro mais no sozinho do vago...". De pensar assim me desvalendo. Eu tinha culpa de tudo, na minha vida, e não sabia como não ter. Apertou em mim aquela tristeza, da pior de todas, que é a sem razão de motivo; que, quando notei que estava com dôr-de-cabeça, e achei que por certo a tristeza vinha daquilo, isso até me serviu bom consolo. E eu nem sabia mais o montante que queria, nem aonde eu extenso ia. O tanto assim, que até um corguinho que defrontei - um riachim à tôa de branquinho - olhou para mim e me disse: - Não... - e eu tive que obedecer a ele. Era para eu não ir mais para diante. O riachinho me tomava a benção. Apeei. o bom da vida é para o cavalo, que vê capim e come. Então, deitei, baixei o chapéu de tapa-cara. Eu vinha tão afogado. Dormi, deitado num pelego. Quando a gente dorme, vira de tudo: vira pedras, vira flôr. O que sinto, e esforço em dizer ao senhor, respondo minhas lembranças, não consigo; por tanto é que refiro tudo nestas fantasias. Mas eu estava dormindo era para reconfirmar minha sorte. Hoje, sei. E sei que cada virada de campo, e debaixo de cada árvore, está dia e noite um diabo, que não dá movimento, tomando conta. Um que é romãozinho, é um diabo menino, que corre adiante da gente, alumiando com lanterninha, em meio certo do sono. Dormi, nos ventos. Quando acordei, não cri; tudo o que é bonito é absurdo - Deus estável. Ouro e prata que Diadorim aparecia ali, a uns dois passos de mim, me vigiava.

Sério, quieto, feito ele mesmo, só igual a ele mesmo nesta vida." GR
"A Guararavacã do Guaicuí: o senhor tome nota deste nome. Mas, não tem mais, não encontra – de derradeiro, ali se chama é Caixerópolis; e dizem que lá agora dá febres. Naquele tempo, não dava. Não me alembro. Mas foi neste lugar, no tempo dito, que meus destinos foram fechados. Será que tem um ponto certo, dele a gente não podendo mais voltar para trás? Travessia de minha vida. Guararavacã – o senhor veja, o senhor escreva. As grandes coisas, antes de acontecerem. Agora, o mundo quer ficar sem sertão. Caixeirópolis, ouvi dizer. Acho que nem coisas assim não acontecem mais. Se um dia acontecer, o mundo se acaba. Guararavacã. O senhor vá escutando." GR


"Cabeça de homem é fraca, repensava" GR - Veredas 
“Só esforçava tenção numa coisa: que era que devia de guardar tenência simples e constância miúda, esperando a novidade de cada momento.” GR - veredas 
"Ações? O que eu vi, sempre, é que toda ação principia mesmo é por uma palavra pensada. Palavra pegante, dada ou guardada, que vai rompendo rumo." GR - veredas

"Afirmo ao senhor, do que vivi: o mais difícil não é um ser bom e proceder honesto; dificultoso, mesmo, é um saber definido o que quer, e ter o poder de ir até no rabo da palavra." GR - veredas 
"Esta vida está cheia de ocultos caminhos. Se o senhor souber, sabe; não sabendo, não me entenderá. Ao que, por outra, ainda exemplo lhe dou. O que há, que se diz e se faz" GR - veredas
"O que eu resolvi, cumpri. Fiz" GR - veredas
"Tenho meus fados. A vida da gente faz sete voltas - se diz. A vida nem é da gente..." GR - veredas 
"Bananeira dá vento de todo lado. Homem? É coisa que treme" GR - veredas 
“Comigo, as coisas não tem  hoje e ant’ontem amanhã:  é sempre.  Tormentos.  Sei que tenho culpas em aberto.  Mas quando foi que minha culpa começou?  O senhor por ora mal me entende, se é que no fim me entenderá.  Mas a vida não é entendível. Digo: afora esses dois - e aquela mocinha Nhorinhá, da Aroerinha, filha da Ana Duzuza - eu nunca supri outro amor, nenhum." GR - veredas
"Senhor atira bem, por que atira com espírito. Sempre é o espírito que acerta" GR Veredas 
"Nao me importava. De repente, eu sabia: o que eu estava querendo era isso mesmo. Ele viesse, me pedisse para voltar, me prometendo tudo, ah, até nos meus pés se ajoelhava. E não viesse? Se demorasse a vir? Aí, o que era que eu ia fazer, caçar meio de vida, aturar remoque sei lá de todos, me repartir no miudinho de cada dia" GR Veredas 
“My work doesn’t come from ideas – my work comes from desires.” Carl André

"Estranha é nossa situação aqui na Terra. Cada um de nós vem para uma curta passagem, sem saber por quê, parece que às vezes por um propósito divino. Do ponto de vista da vida cotidiana, porém, de uma coisa sabemos: o homem esta aqui pelo bem de outros homens" Einstein


Sete pecados sociais


Riqueza sem trabalho
Comércio sem moral
Ciência sem humanidade
Política sem princípios
Educação sem carácter
Prazer sem consciência
Religião sem sacrifício

Mahatma Gandhi

A poesia e a natureza das coisas

"Assim também ocorre com formas, sons e cores. A pedra triunfa na escultura, humilha-se na escada. A cor resplandece no quadro; o movimento, no corpo, na dança. A matéria, vencida ou deformada no utensílio, recupera seu esplendor na obra de arte. A operação poética é de signo contrário a manipulação técnica. Graças à primeira, a matéria reconquista sua natureza: a cor é mais cor, o som é plenamente som. Na criação poética não há vitória sobre a matéria ou sobre os instrumentos, como quer uma vã estética de artesãos, mas um colocar em liberdade a matéria. Palavras, sons, cores a outros materiais sofrem uma transmutação mal ingressam no círculo da poesia. Sem deixarem de ser instrumentos de significação e de comunicação, convertem-se em "outra coisa". Essa mudança - ao contrário do que ocorre na técnica - não consiste em abandonar sua natureza original, mas em voltar a ela. Ser "outra coisa" quer dizer ser a "mesma coisa": a coisa mesma, aquilo que real e primitivamente são" O arco e a Lira - Octavio Paz 

cecidit, cecidit, cecidit

"Assim há-de ser o semear. Hão-de cair as coisas hão-de nascer; tão naturais que vão caindo, tão próprias que venham nascendo. (…) Não está a coisa no levantar, está no cair: Cecidit. (cair em latin) Notai uma alegoria própria da nossa língua. O trigo do semeador, ainda que caiu quatro vezes, só de três nasceu; para o sermão vir nascendo, há-de ter três modos de cair: há-de cair com queda, há-de cair com cadência há-de cair com caso. A queda é para as coisas, a cadência para as palavras, o caso para a disposição. A queda é para as coisas porque hão-de vir bem trazidas e em seu lugar; hão-de ter queda. A cadência é para as palavras, porque não hão-de ser escabrosas nem dissonantes; hão-de ter cadência. O caso é para a disposição, porque há-de ser tão natural e tão desafectada que pareça caso e não estudo: cecidit, cecidit, cecidit." António Vieira, Sermão da Sexagésima
"Deus não joga dados com o Universo" einstein
“Um diamante é um pedaço de carvão que se saiu bem sob pressão.”





"Esses reflexos me encantam pela estranheza de sua existência (a estranheza é um traço dos milagres). Siniavski diz que os versos e as rimas são instrumentos muito apropriados para dizer estranhezas, por causa da sua própria natureza. Assim, podemos dizer coisas de que nos envergonharíamos se as disséssemos da maneira normal. A poesia, quando não se reveste da estranheza dos versos, parece presunçosa. Como certas danças que se deve dançar com máscara ou fantasia. Eu mesmo sempre achei que, para exprimir certas coisas, devia-se transforma-las em brincadeiras, em jogos de palavras ou em algum tipo de estranheza: o chamado humor. Vestir a realidade para que ela possa ser "perdoada". Sei que não me explico bem mas essa parece ser a verdadeira essência do humor. Mas "perdoada" por quem, afinal? Por quem o julgaria presunçoso se você dissesse certas coisas de um jeito mais direto" - saul steinberg
“I am not bound to win, but I am bound to be true. I am not bound to succeed, but I am bound to live by the light that I have." Abraham Lincoln
"A 'inspiração' como uma condição da descoberta intuitiva em que ‘tudo quer tornar-se palavra'" 
Theo Roos

"quem é que vos fala em escrever? O escritor não fala disso, está preocupado com outra coisa. Considerando estes critérios, vemos que, de entre todos aqueles que fazem livros com intenção literária, mesmo entre os loucos, muito poucos podem dizer-se escritores."
"Quando o discípulo está pronto o mestre aparece"

história - memória sobre um saber

"Para enfrentar essa questão, devemos começar invocando aquilo que a experiência humana acumulou em forma de conhecimento, desde as origens de nossa existência até hoje. Um arquiteto deve pensar de cara em história da arquitetura, se debruçar sobre os testemunhos que temos - alguns muito emocionantes. Necessiariamente temos que ir aos livros, a esses testemunhos, e saber o que é estudar para nos convencer do que estamos fazendo. Vem a minha cabeça a imagem de Stonehenge - aquelas pedras apoiadas num frágil equilíbrio milenar. Estou dizendo tudo isso pelo seguinte: se você vai fazer um projeto, antes de mais nada deve ser capaz de invocar a memória sobre um saber, ainda que não tenha a consciência de que sabe." Paulo Mendes da Rocha - Aula - Maquetes de papel
"Os filósofos dizem que, apesar de sabermos que nascemos para morrer, temos ânimo em relação ao futuro, porque no fim não nascemos para morrer, mas sim para continuar." Paulo Mendes da Rocha


"modernidade: dar-se conta outra vez de que tudo é repensável." jorge wagensberg
‎"Supere isso e, se não puder superar, supere o vício de falar a respeito."
Caio Fernando Abreu
"todo estilo é um ato de violência" - Richter

"E tudo o que os homens fazem, sabem ou experimentam só tem sentido na medida em que se possa falar sobre. Pode haver verdades para além do discurso e que podem ser de grande relevância para o homem no singular, isto é, para o homem na medida em que, seja o que for, não é um ser político. Os homens no plural, isto é, os homens na medida em que vivem, se movem e agem neste mundo, só podem experimentar a significação porque podem falar uns com os outros e se fazer entender aos outros e a si mesmo" - Hannah Arendt / a condição humana 
"A felicidade requer que o futuro seja incerto" jorge wagensberg

movimento - dar sentido


"‎Com a mobilidade não arbitrária, a simetria circular deu lugar a simetria bilateral, perpendicular à direção do movimento; e deu, assim, o sinal de largada para a longa aventura do cérebro" jorge wagensberg
"Ser vivo é uma parte do mundo que tende a manter uma identidade independentemente da incerteza do resto do mundo" Jorge Wagensberg
helio pellegrino, aos 60, numa carta a fernando sabino:

"Quando você faz 20 anos está de manhã olhando o sol do meio dia. Aos 60 são seis e meia da tarde e você olha a boca da noite. Mas a noite também tem seus direitos. Esses 60 anos valeram a pena. Investi na amizade, no capital erótico, e não me arrependo. A salvação está em você se dar, se aplicar aos outros. A única coisa não perdoável é não fazer. É preciso vencer esse encaramujamento narcísico, essa tendência à uteração, ao suicídio. Ser curioso. Você só se conhece conhecendo o mundo. Somos um fio nesse imenso tapete cósmico. Mas haja saco!"

também a sabino, aos 20...

 "O homem, quando jovem, é só, apesar de suas múltiplas experiências. Ele pretende, nessa época, conformar a realidade com suas mãos, servindo-se dela, pois acredita que, ganhando o mundo, conseguirá ganhar a si próprio. Acontece, entretanto, que nascemos para o encontro com o outro, e não o seu domínio. Encontrá-lo é perdê-lo, é contemplá-lo em sua liberrérima existência, é respeitá-lo e amá-lo na sua total e gratuita inutilidade. O começo da sabedoria consiste em perceber que temos e teremos as mãos vazias, na medida em que tenhamos ganho ou pretendamos ganhar o mundo. Neste momento, a solidão nos atravessa como um dardo. É meio-dia em nossa vida, e a face do outro nos contempla como um enigma. Feliz daquele que, ao meio-dia, se percebe em plena treva, pobre e nu. Este é o preço do encontro, do possível encontro com o outro. A construção de tal possibilidade passa a ser, desde então, o trabalho do homem que merece seu nome." (via lívia a)

"Todo lo profundo necesita una máscara" - Nietzsche.
"Tô me afastando de tudo que me atrasa, me engana, me segura e me retém. Tô me aproximando de tudo que me faz completo, me faz feliz e que me quer bem. Tô aproveitando tudo de bom que essa nossa vida tem. Tô me dedicando de verdade pra agradar um outro alguém. Tô trazendo pra perto de mim quem eu gosto e quem gosta de mim também. Ultimamente eu só tô querendo ver o ‘bom’ que todo mundo tem. Relaxa, respira, se irritar é bom pra quem? Supera, suporta, entenda: isento de problemas eu não conheço ninguém. Queira viver, viver melhor, viver sorrindo e até os cem. Tô feliz, tô despreocupado, com a vida eu tô de bem." Caio Fernando Abreu (via L)
"Na verdade, as "Inserções em circuitos ideológicos" nasceram da necessidade de se criar um sistema de circulação, de troca de informações, que não dependesse de nenhum tipo de controle centralizado. Uma língua. Um sistema" - cildo meireles
"Nada é mais difícil, e por isso mais precioso, do que ser capaz de decidir" Napoleão Bonaparte.
"Minha liberdade é escrever. A palavra é o meu domínio sobre o mundo." Clarice